A comezaina
“Assim a saúde da humanidade não consiste em beber depressa, como os cães, mas em começar a beber cedo, unde versus:
Se o madrugar não é conveniente
O beber de manhã é excelente.”
Gargântua e Pantagruel – Rabelais
Para apascentar os ânimos da depressão que assola Portugal, nada como o bom remédio da pança.
Se os americanos têm o Prozac, os ingleses a cerveja, os russos o vodka com lagostins, nós por cá temos uma terapia anti-depressiva que é certo e sabido, transforma o mais sorumbático dos contabilistas numa espécie de Grande Gatsby do garfo.
Não há mal que uma boa comezaina não resolva.
Os políticos, que não andam cá para escalfar ovos, já perceberam que pelo estômago se ganham eleições, e que com farta forragem se arregimentam as boas vontades necessárias para empunhar as bandeirinhas de campanha.
Neste período pós-traumático da dissolução e pré-depressivo das eleições, o melhor mesmo é ter à mão uns sais de fruto para amansar os estômagos revolvidos com a política nacional.
As empresas de “catering” esfregam as mãos de contentamento com o “boom” do croquete e do bacalhau com natas a que se assistiu nos últimos tempos.
Primeiro foi o jantar promovido pelo aniversário de Mário Soares a fazer sombra no culto da personalidade e na vassalagem desdentada a todas as festarolas de anos que Kim Jong II organiza para si mesmo na Coreia do Norte.
O homem é um pilar da democracia, mas com a breca, era preciso aquele aparato todo?
Animados com as novas fronteiras do garfo, os Mestres Silvas do PS decidiram envergonhar o seu pai-fundador e “cozinharam” uma festa de arromba a 20 euros o prato, que milhares de “esfomeados” desembolsaram de bom grado, ou não fosse a ementa favas contadas com nacos de poder no tacho.
Um pitéu de lamber o beiço para todos os escanzelados que passam pela vida a mendigar as côdeas que o partido lhes dá para serem pessoas de importância nenhuma na hora fatal da distribuição dos tachos para rapar.
Foi precisamente pela ementa mais “nouvelle cuisine” sem grandes pratos para apresentar que Pedro Santana Lopes teve de convocar os cantoneiros e os coveiros da Câmara Municipal de Lisboa para o seu jantarinho de desagravo.
Para as bandas do PSD os tachos já estão rapados e agora cheira a míngua e a sardinha no pão, repasto pouco atraente para gente habituada a tomar conta dos melhores restaurantes da moda, com seguranças a tratarem-se a “foie gras” e Barca Velha.
Mas, para o farta-vilanagem ficar completo, só faltava mesmo o Paulinho das Feiras, que já mandou desempoeirar a sua boina de capataz burguês. A loquaz personagem não se quer ficar atrás nisto de encher o bandulho partidário e convocou por SMS todos os militantes do PP para um jantar que aspira ao guinness, batendo o maior cozido à portuguesa, marca recentemente fixada por uma povoação nortenha com excesso de orelheira em “stock”. Cozido à portuguesa e vichyssoise eis a ementa neo-liberal.
Por este andar, e com a campanha ainda a refogar, qualquer dia vamos ter os estádios do Euro cheios para a “maior tainada do mundo”, organizado pela concelhia do PCTP/MRPP de Alcabideche, ou para o jantar de enaltecimento ao deputado Sarmento na sua despedida da vida pública. Pelo menos, já achamos uma forma de rentabilizar os estádios, que não passa pelo Júlio Iglésias a cantar o fado para excursões de reformados.
A comezaina ainda vai no adro, e chegará naturalmente à Beira, e eu que nunca me fiz rogado a uma boa morcela, não vou desdenhar o meu apoio a qualquer candidato que cobre menos de 10 euros o fartote. O Prof. Cavaco é que a sabia toda, e fez doutrina mediática quando, para evitar as perguntas dos jornalistas, se empanturrou de bolo-rei à frente das câmaras, naquele que foi o único gesto humano do seu desconsolado consulado.
De papo cheio, Portugal vai em frente, porque isso de haver um milhão de pessoas com fome neste país é mais uma cabala dos media.
Se o madrugar não é conveniente
O beber de manhã é excelente.”
Gargântua e Pantagruel – Rabelais
Para apascentar os ânimos da depressão que assola Portugal, nada como o bom remédio da pança.
Se os americanos têm o Prozac, os ingleses a cerveja, os russos o vodka com lagostins, nós por cá temos uma terapia anti-depressiva que é certo e sabido, transforma o mais sorumbático dos contabilistas numa espécie de Grande Gatsby do garfo.
Não há mal que uma boa comezaina não resolva.
Os políticos, que não andam cá para escalfar ovos, já perceberam que pelo estômago se ganham eleições, e que com farta forragem se arregimentam as boas vontades necessárias para empunhar as bandeirinhas de campanha.
Neste período pós-traumático da dissolução e pré-depressivo das eleições, o melhor mesmo é ter à mão uns sais de fruto para amansar os estômagos revolvidos com a política nacional.
As empresas de “catering” esfregam as mãos de contentamento com o “boom” do croquete e do bacalhau com natas a que se assistiu nos últimos tempos.
Primeiro foi o jantar promovido pelo aniversário de Mário Soares a fazer sombra no culto da personalidade e na vassalagem desdentada a todas as festarolas de anos que Kim Jong II organiza para si mesmo na Coreia do Norte.
O homem é um pilar da democracia, mas com a breca, era preciso aquele aparato todo?
Animados com as novas fronteiras do garfo, os Mestres Silvas do PS decidiram envergonhar o seu pai-fundador e “cozinharam” uma festa de arromba a 20 euros o prato, que milhares de “esfomeados” desembolsaram de bom grado, ou não fosse a ementa favas contadas com nacos de poder no tacho.
Um pitéu de lamber o beiço para todos os escanzelados que passam pela vida a mendigar as côdeas que o partido lhes dá para serem pessoas de importância nenhuma na hora fatal da distribuição dos tachos para rapar.
Foi precisamente pela ementa mais “nouvelle cuisine” sem grandes pratos para apresentar que Pedro Santana Lopes teve de convocar os cantoneiros e os coveiros da Câmara Municipal de Lisboa para o seu jantarinho de desagravo.
Para as bandas do PSD os tachos já estão rapados e agora cheira a míngua e a sardinha no pão, repasto pouco atraente para gente habituada a tomar conta dos melhores restaurantes da moda, com seguranças a tratarem-se a “foie gras” e Barca Velha.
Mas, para o farta-vilanagem ficar completo, só faltava mesmo o Paulinho das Feiras, que já mandou desempoeirar a sua boina de capataz burguês. A loquaz personagem não se quer ficar atrás nisto de encher o bandulho partidário e convocou por SMS todos os militantes do PP para um jantar que aspira ao guinness, batendo o maior cozido à portuguesa, marca recentemente fixada por uma povoação nortenha com excesso de orelheira em “stock”. Cozido à portuguesa e vichyssoise eis a ementa neo-liberal.
Por este andar, e com a campanha ainda a refogar, qualquer dia vamos ter os estádios do Euro cheios para a “maior tainada do mundo”, organizado pela concelhia do PCTP/MRPP de Alcabideche, ou para o jantar de enaltecimento ao deputado Sarmento na sua despedida da vida pública. Pelo menos, já achamos uma forma de rentabilizar os estádios, que não passa pelo Júlio Iglésias a cantar o fado para excursões de reformados.
A comezaina ainda vai no adro, e chegará naturalmente à Beira, e eu que nunca me fiz rogado a uma boa morcela, não vou desdenhar o meu apoio a qualquer candidato que cobre menos de 10 euros o fartote. O Prof. Cavaco é que a sabia toda, e fez doutrina mediática quando, para evitar as perguntas dos jornalistas, se empanturrou de bolo-rei à frente das câmaras, naquele que foi o único gesto humano do seu desconsolado consulado.
De papo cheio, Portugal vai em frente, porque isso de haver um milhão de pessoas com fome neste país é mais uma cabala dos media.