Contra Vapor

"Este país está cheio de espertos e moralistas que até chateia. Precisava era de ser pasteurizado em merda de uma ponta à  outra"
José Cardoso Pires, in - Balada da praia dos cães

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sexta-feira, novembro 25, 2005

Posologia eleitoral

“Se os médicos tratassem dos seus pacientes como os actuais governantes tratam da política, todos esses doentes morreriam”.
Prof. Minkowski, Le Fígaro (7 de Fevereiro de 1992)


Em período de nojo pré-eleitoral, dificilmente me poderia furtar a um pequeno exercício farmacológico, para podermos enfrentar as cólicas que nos vão acossar colectivamente este fim-de-semana.
Passamos por isso uma breve posologia eleitoral sobre os principais partidos concorrentes às eleições domingueiras (ora bolas, não há bola). Todos eles podem ser tomados por via oral, ou na clássica forma do supositório, e prometem-nos saudinha da boa, em vez de nos tratarem da saúde, como o têm feito neste anos de doutores da mula ruça.


PSD/Viagra
Poderoso estimulante cerebral e sexual, ideal para quem sofre de disfunção eréctil, delírios de gigantismo e da síndrome de Peter Pan (o mito do eterno adolescente). Em relação à saúde do país, este fármaco de prescrição obrigatória nos últimos três anos, já provou aquilo que é capaz, graças à explosiva mistura dos compostos PPD e PP. As contra-indicações são óbvias – amnésia colectiva, desregulação orçamental, esquizofrenia galopante (a mania das perseguições), verborreia, e erecções espontâneas e inconsequentes geradoras de estados de instabilidade emocional. Não se deve tomar quando se conduz os destinos do país, já que diminui a coordenação motora.

PS/ Xanax
Calmante e relaxante muscular, que pode em certos casos ser tomado como anti-depressivo.
Para combater eficazmente a crise de auto-estima nacional deve ser tomado por via oral. É um fármaco muito utilizado na psicanálise, já que facilita o diálogo, mas em contrapartida diminui a clarividência e a capacidade de decisão.
De contra-indicações célebres, especialmente quando tomado com queijo limiano, que levou o laboratório responsável a aconselhar a sua ingestão em maioria absoluta. Se em maioria simples, a bulímia orçamental e a colónia de parasitas que se alojaram no “aparelho” digestivo do estado foram o que foram, imaginem então em maioria absoluta.
Apesar do novo rótulo e do design das cápsulas, os compostos químicos mantêm-se com elevado percentual das bactérias, conhecida dos biólogos da especialidade como “tralha guterrista”, que provocam fortes amnésias e crises de fígado agudas.

PP/ Hallibut
Fármaco para tomar em concomitância com o PPD, resultando daí as contra-indicações supra-citadas. É também um partido-pomadinha para aplicar em pequenas zonas do corpo do Estado, friccionando para chamar a atenção. Foi aplicado como unguento nas tropas, exterminando a doença do serviço militar obrigatório, mas deixou submarinos cravados como supositório nos próximos orçamentos (para as SCUT`S não há papel, mas para brincar ao Popeye já há), unhas encravadas na Justiça com um vírus Cardona e uma valente nódoa negra no caso Moderna, que nem com muita pomadinha se apagou. Como contra-indicação mais forte as insanáveis irritações cutâneas, em especial em espécies imigrantes.
Uma pomadinha perigosa esta.

CDU/Pastilhas Rennie
Para o catarro do fumador, males da garganta, e gripalhadas estivais, as pastilhas comunistas são sempre um clássico da farmacologia eleitoral, que mantém o mesmo receituário desde o tempo em que o Estaline ainda não usava bigode. Enquanto todos os outros fármacos eleitorais são de composição sintética, a CDU mantém-se fiel ao composto marxista-leninista, que dá aquele sabor tão especial a pastilhas da avó (estilo as do Dr. Bayard), boas para a tosse e para pouco mais.
Apesar de actualmente serem olhadas com a simpatia e complacência que se dedica às relíquias do passado, as pastilhas Rennie da política nacional só podem ser tomadas em juízo por quem sofra de azia eleitoral. As contra-indicações são conhecidas, tendência para a repetição e esquecimento, acentuadas num corpo decrépito e esclerosado.

Bloco de Esquerda /PROZAC
Enquanto a cannabis e o haxixe não são legalizados para fins eleitorais, perdão – terapêuticos, este vai sendo o nosso fármaco mais ousado e modernaço. Um autêntico PROZAC para andarmos numa boa, sem stress a curtir uma de “politicamente correctos” e socialmente empenhados. Num país depressivo, nada como este psicotrópico de brandos costumes, um sucedâneo “light” do LSD, para imaginarmos que podemos fazer um mundo melhor a partir de tiradas do “Le Monde Diplomatique”. Esta pastilha não é para os males do corpo; é para os males de um patético existencialismo urbano, que se sente culpado por andar de Mercedes Classe A, ter instrução superior e fazer viagens à Índia em primeira classe.
Há uns que experimentam a psicanálise, há outros que se alistam no Bloco. As causas da moda são produto de uma globalização cultural, o que até é giro, num partido que é contra a globalização. Não tem graves contra-indicações, a não ser a ressaca própria de quando passa o efeito do alucinógeneo; a não se que se misture com o PS, podendo assim criar um estado próprio de euforia despesista, fatal para o estômago do país.

Posto isto, se ainda tiver a doença da indecisão, o melhor é aconselhar-se com o seu médico de família, ou então fazer como eu, auto-medicar-se com genéricos de marca branca, e votar em branco.
Terapia que seguirei com a lucidez de quem sabe que na próxima segunda-feira o país estará exactamente na mesma, independentemente do supositório que a maioria decidir meter no rabiosque.